Desde março passado, a imposição de medidas de confinamento obrigatório aos cidadãos e a travagem brusca da atividade económica nos diversos países atingidos pela pandemia da COVID-19, afetou naturalmente o comércio numismático, tendo-se assistido, desde então, à suspensão sine die ou ao deferimento para datas bem mais tardias de diversos leilões e outras vendas de objetos numismáticos pela generalidade das empresas nacionais e estrangeiras da especialidade. Em Portugal, entre março e maio esta atividade terá parado, constituindo uma das poucas exceções a 76ª Permuta da S.P.N., programada para o dia 26 de março, que foi possível realizar por se tratar de uma permuta por correspondência, formato que permitiu a sua concretização sem contrariar as regras do estado de emergência então em vigor.
Já a empresa Numisma Leilões, S.A., que tinha o seu 122º leilão calendarizado para 30 de março passado, por se tratar de um leilão presencial, teve de ser adiado para o dia 3 de junho, tendo decorrido apenas online.
O anúncio do leilão n.º 123, agendado para o próximo dia 30 (3ª feira) do corrente mês, também a realizar apenas online, vem confirmar uma retoma responsável das atividades desta importante casa-leiloeira portuguesa, em alinhamento com a atuação das mais renomadas firmas internacionais da especialidade. Assinale-se positivamente que, mesmo tratando-se de um leilão online, a Numisma S.A. manteve a produção e a distribuição pelos seus clientes e amigos de um catálogo impresso, com a mesma qualidade dos seus afamados catálogos que sempre acompanharam a realização de todos os leilões presenciais. A participação no leilão em apreço pode ser efetuada através do preenchimento da tradicional ordem de compra que acompanha o catálogo impresso ou da licitação online nas conhecidas plataformas bidspirit ou bidinside, onde, após uma fácil inscrição individual, todos os interessados poderão seguir passo a passo o leilão.
Neste evento são apresentados 434 lotes, maioritariamente de moeda de Portugal e antigas colónias (lotes 11-376), mas também com numismas do mundo antigo (1-10), de diversos países estrangeiros (377-400) e um importante conjunto de bibliografia (402-34), onde merecem destaque alguns lotes, de especial raridade, dedicados a estudos falerísticos (p. ex., os lotes 405, 406, 407 e o raríssimo lote 434, de Manuel Iñigo y Miera, sobre a história das ordens de cavalaria).
Como é timbre nos leilões da Numisma S.A., uma significativa parte dos lotes é constituída por moeda de ouro, para além da presença de várias raridades que contribuíram para a grande acolhimento entre todos os colecionadores e interessados por numismática e, consequentemente, para a história de sucesso desta empresa lisboeta.
Nesta singela notícia não cabe uma referência pormenorizada a todos os espécimes de assinalável raridade, valor histórico e artístico, recomendando-se por isso a consulta atenta do belo catálogo (com todos os lotes ilustrados) que acompanha este leilão. Aqui faremos apenas referência aos lotes que despertaram em nós uma atenção especial ou que, pela seu elevada raridade, são de menção obrigatória, abrindo esta relação com duas peças de inegável raridade e interesse, pertencente à bem representada 1ª dinastia: um raro dinheiro de Afonso Henriques, da série com pentagrama no reverso (12) e um magnífico morabitino de Sancho I (13), moedas que despertarão os olhares de alguns colecionadores; entre o ouro da 2ª dinastia, o destaque vai para os cruzados de Afonso V (60 e 61), o segundo em invulgar estado de conservação, João II (70) e João III (88-89), bem como para o S. Vicente e 1/2 S. Vicente deste monarca (86-87); na moeda de prata, devemos registar, dois exemplares, em diferentes estado de conservação, do meio real de 3 e 1/2 libras, P, muito raros, de João I(51 e 52), um real grosso, L, de Afonso V (62) e um cinquinho, sempre muito procurado, de Manuel I (83); uma menção especial, é devida aos 500 reais, do período dos Governadores do Reino (125), exemplar raríssimo, assim como o tostão (coroa fechada), não se conhecendo mais do que meia dúzia de exemplares (126). Entre o numerário da dinastia filipina sobressai a peça de 4 cruzados de Filipe II (136), da antiga coleção Celso Isla, muito rara e em excelente estado de conservação.
Nos lotes respeitantes à 4ª dinastia devemos desde logo chamar a atenção do leitor para os exemplares em ouro, sempre muito procurados, mas o interesse deste conjunto de lotes não se fica por aqui, já que está bem recheado por diversos espécimes "apetecíveis" para qualquer colecionador, como: o tostão 1641, L-C, de João IV (144), da mais alta raridade, o curioso e raro ensaio de vintém, em prata, de Pedro II (187), ou a soberba dobra, 1731, do magnânimo João V (193), grupo que podemos abrilhantar com a fantástica meia peça, 1805, de João Príncipe Regente (241), os 5000 réis, 1835, de Maria II (273) e os 2000 réis, 1870, de Luís I (300), exemplares que muito excecionalmente podemos encontrar em simultâneo num único leilão.
No recheado conjunto de lotes da República encontram-se os icónicos 50 centavos de 1925 (319) e os 20 centavos de 1922 (320), seguido pelo numerário das antigas colónias portuguesas, onde pontifica a amoedação da Índia portuguesa com a roda de 15 bazarucos, de João V (356), de muito difícil aquisição, os sempre raros exemplares São Tomé de 4 xerafins, 1766, e 5 xerafins, 1755 (de Damão), de José I (357 e 361) e o ½ pardau, 1755, e tanga, 1751, do mesmo reinado (359 e 360); um palavra também para o raro canelo moçambicano, 1843, de Maria II (371), que integrou a antiga coleção Barbas.
Antes dos lotes finais do leilão, já referidos, reservados a publicações de numismática e afins, podemos apreciar um bom conjunto de moeda estrangeira (377-400), fundamentalmente de ouro e em grau de conservação elevado, oriunda de diferentes países, como a África do Sul, Austrália, México e Reino Unido, cuja aquisição é sempre um bom investimento.
Pelo que fica dito sobre a qualidade deste leilão, com uma significativa presença de moedas de elevada raridade, cumpre-nos aconselhar todos os colecionadores e interessados a participar nesta venda pública com a chancela da Numisma S.A., a quem felicitamos por mais esta iniciativa que, se espera, contribua para reanimar o mercado numismático nacional.
Rui Centeno
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