A empresa lisboeta Numisma S.A. realiza no próximo dia 22 de junho, o leilão 132, o terceiro deste ano, com o título “Moedas de ouro: Portugal, Brasil e Estrangeiras, Coleção Bordallo III”. Esta venda pública ocorrerá totalmente online nas plataformas “bidspirit” e “bidinside”, em sessão única, a partir das 15:00, que integra 461 lotes muito diversificados, onde figuram: moedas romanas (lotes 1-27), algumas visigodas e muçulmanas (lotes 28-34), moedas portuguesas do império, em ouro e prata (lotes 37-243) e da república (lotes 244-261), emissões especiais da INCM (lotes 262-307), numerário das antigas colónias portuguesas (lotes 309-313), amoedação estrangeira (lotes 314-439), e cédulas (lotes 441-460).
Nas oito estampas iniciais (págs.9-16) são destacados 64 lotes, atendendo ao seu superior estado de conservação e/ou alto nível de raridade. Tais menções incluem 56 moedas em ouro nacionais e estrangeiras, uma raríssima moeda de Isabel II, de Espanha, de 2,5 cêntimos de escudo (lote 365), cunhada em Jubia, em 1866 (na obra publicada em 2017, de Casal e Nuñez, Jubia. Catálogo especializado, pág. 156, nota 104, os autores registam apenas 3 exemplares conhecidos), um ensaio de 5000 réis (lote 239) do mesmo ano; além de cinco notas. Uma das cédulas, de lote 442 é referente a ordem de moeda de 4800 réis de 5 de setembro de 1837, que faz sua primeira aparição em 46 anos de existência da Numisma, denotando a alta raridade desse exemplar.
Quanto às moedas de ouro, que constituem a grande maioria dos lotes deste leilão, são muitas as merecem uma referência especial, mas limitamo-nos aos nossos preferidos, como é o caso do lote 28, um belo e raríssimo triente visigodo de Égica, cunhado em Toledo, havendo apenas mais um registo de um exemplar idêntico que pertenceu à famosa coleção Archer M. Huntington (na Hispanic Society of America, inv.º 16628), infelizmente vendida em diversos leilões desde 2012; o tremissis da coleção Huntington apenas difere do exemplar agora em venda, por apresentar um “N” retrógado no início da legenda do anverso, sendo o reverso igual, ainda que batido por cunho distinto (cf. Miles, The coinage of the Visigoths of Spain..., n.º 437(k) e Est. 34.2; CNV 528.17, reproduz um fruste desenho do exemplar da HSA; Pliego, La moneda visigoda, II, 565(i), com foto); por aqui se pode avaliar a extrema raridade e valor desta moeda de Égica que agora se apresenta. Certamente, este numisma não desmereceria um lugar em qualquer museu da especialidade.
O lote 50 é um Português (10 cruzados) de D. Manuel I, que dispensa comentários, porque lhe é reservado um lugar especial no catálogo (pág. 8), onde se destaca a sua importância histórica, a raridade (pág. 8) e também a particularidade de ser o exemplar reproduzido em todas as edições do catálogo de Alberto Gomes (74.05) até 2021.
Entre os nossos destaques encontram-se ainda os lotes: 1-3, três numismas batidos, sob o domínio romano, em Baesuris (n.º1) e Balsa (n.º 2-3), casas da moeda localizadas em território atualmente português, característica que confere a estas produções uma procura por parte dos colecionadores de moeda portuguesa; os lotes 68 e 69, dobras de D João V, a primeira, de 1730 cunhada na Bahia e do 3º tipo, sendo extremamente rara, justificando, por isso, o lance mínimo de 20.000€, enquanto, a segunda, de 1731, foi emitida no Rio de Janeiro, com o escudo oval, apresentando um estado de conservação quase imaculada; os lotes 159 e 172, respetivamente, um meio escudo de D. João, Príncipe Regente, de 1807, e uma meia peça de D. João VI, de 1821, com uma emissão de 196 exemplares são numismas de grande raridade e, por esta razão muito procurados e apreciado; finalmente o lote 239, um raro ensaio de 5.000 réis de D. Luís I, datado de 1866.
Dentre as moedas do final do império português e do início da república, são vários os lotes compostos por grupos de moedas, bastantes de moeda de ouro (lotes 80, 83, 213-16, 227-34 e 236), sendo alguns uma boa opção para novos colecionadores ou, então, uma boa oportunidade para arrematar séries completas ou quase completas de algumas denominações ou série anuais de uma mesma emissão.
Quanto as moedas estrangeiras, as emissões em ouro da África do Sul aparecem em ótimo estado de conservação (lotes 314-322). Os lotes 370 e 379 apresentam bons exemplares de moedas de cinco e dez dólares, em ouro, dos Estados Unidos da América, emitidas na transição de séculos XIX-XX. O numerário do México também se destaca com 14 lotes (397-410) todos em ouro, e em estado soberbo de conservação, constituindo uma boa opção para o investimento neste metal nobre.
Quanto ao papel-moeda representado nesta venda pública, é obrigatória a menção ao excecional exemplar da mais alta raridade, os 4800 Réis, de 5 de setembro de 1837, uma autêntica peça de museu, cabendo ainda uma referência à nota de 20$000, de 30 de dezembro de 1912, chapa 9, exemplar bem conservado e raro.
Como vem sendo habitual em catálogos anteriores, a seguir aos exemplares a leiloar, publica-se um artigo numismático de muito interesse: “Relatório de Análise de um conjunto de Numismas”, de autoria da Doutora Isabel Tissot, por solicitação da Numisma S.A. O trabalho trata da identificação e caracterização das ligas de ouro em algumas emissões de grande importância para a numária de Portugal: os Portugalösers, os Justos de D. João II, assim como o Gentil, a Dobra e a Meia Dobra de D. Fernando I. Um conjunto de treze moedas e três barras de ouro, pertencentes à coleção numismática do Novo Banco, foi analisado com recurso às tecnologias de microscopia ótica digital e espectroscopia de fluorescência de raios X, que permitiu uma caracterização elementar das ligas de ouro utilizadas nos diversos exemplares.
Fica assim registado mais um ótimo catálogo, com um impressivo conjunto de numerário em ouro, em bom estado de conservação, com algumas peças raras e valiosas e uma assinalável variedade de moeda estrangeira, esperando-se que tais atributos justifiquem mais um sucesso para a Numisma S.A. que felicitamos por mais esta iniciativa.
Rui Centeno e Alice Baeta
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