A crise pandémica em que continuamos a viver tem contribuído para acelerar uma tendência, já visível anteriormente no comércio de Arte e Antiguidades: a passagem para o comércio online, que obrigou as empresas a alterações maiores ou menores na sua organização e funcionamento, consoante o seu grau de adesão anterior a esta nova realidade do comércio digital.
No referente à casa Numisma Leilões S.A., como a utilização de plataformas digitais no apoio à sua atividade é anterior à crise provocada pela COVID-19, a passagem para a realização de leilões online foi certamente facilitada pela experiência prévia no comércio online. Assim e seguindo das grande casa-leiloeiras internacionais, a Numisma S.A. apresenta o leilão de arranque da temporada, o n.º 124, Moedas raras de ouro de Portugal, medalhas, cédulas e livros - Coleção DADAO, que decorrerá exclusivamente online no próximo dia 30 de setembro e que não dispensou a produção de um belo catálogo impresso, em formato A4 (adotado desde o leilão 114, em 2018), onde se apresenta uma descrição e reprodução fotográfica de todos os lotes, para distribuição aos seus clientes e amigos.
Como seria expectável, neste novo leilão com uma grande diversidade de lotes, procurando chegar a um vasto leque de colecionadores, encontram-se peças de invulgar qualidade e raridade, que destacaremos ao longo destas. Os 516 lotes a leiloar distribuem-se pelo Mundo Clássico e Antiguidade Tardia (n.º 1-94), numária muçulmana (n.º 95-144), Portugal e colónias (n.º 145-352), moeda estrangeira (n.º 353-73), medalhística (n.º 374-414), ações e cédulas (n.º 415-44), notas portuguesas e estrangeiras (n.º 445-80), apólices (n.º 481-87) e a habitual secção bibliográfica (n.º 488-516).
Na secção sobre a numária da Antiguidade pode-se encontrar um bem fornecido grupo de lotes de moeda romana e hispano-romana, onde se assinala a presença de alguns exemplares invulgares: n.º 3, 66, 72 (um raro dupôndio de CILBE) e 86 (asse de Pax Iulia); entre os oito tremisses visigodos apresentados no leilão, quatro são verdadeiramente excecionais: dois de Sisebuto, cunhados em Braga e Egitânia (n.º 87 e 88), um de Sisenando (n.º 92) e outro Égica e Vitiza (n.º 93), produzidos também na casa da moeda de Egitânia, quatro peças que deverão merecer a atenção das nossas instituições museológicas, considerando a sua elevadíssima raridade e interesse histórico.
Após um bem fornecido conjunto de lotes de moedas muçulmanas (n.º 95-144), entramos na numária de Portugal, em que a I Dinastia está representada por apenas 10 lotes (n.º 145-54) mas onde se pode aplicar a máxima popular “poucos mas bons”, dado que aqui podemos deparar com: o mítico Tornês de Dinis (n.º 147), os raríssimos Meio Real Branco, de Zamora, o Tornês de Busto, do Porto, e duas Barbudas, de Tui e Corunha, de Fernando I (n.º 147, 149, 153-4), peças raramente oferecidas simultaneamente em um único leilão.
Entre o numerário da 2ª Dinastia, representado pelos lotes 155 a 244, para além dos inúmeros numismas mais comuns e invulgares, também integra verdadeiras preciosidades, permitindo-nos destacar as nossas preferidas: o muito raro Real Grosso, do Porto, cunhado por Afonso V (n.º 171), os dois muito apreciados Espadins de João II (n.º183-4), o primeiro em excelente estado de conservação; o Meio S. Vicente, o-o, do Porto (n.º 203) e o raríssimo Cruzado Calvário R (3 pontos) – L (1 ponto), de João III; de Sebastião I, salientamos o S. Vicente, P (3 pontos) – O (n.º 235) e o Engenhoso, sem data (talvez 1564) (n.º 237), acompanhados pela estrela deste leilão, o Engenhoso de 1565 (n.º 236), de que há registo de apenas dois exemplares conhecidos, com bem refere Javier Salgado no esclarecedor texto que acompanha esta fantástica peça; a Dinastia de Avis encerra com um outro raríssimo exemplar, os 2000 Reis, com carimbo “Açor” à esquerda, no primeiro quadrante do reverso, António Prior do Crato (n.º 244).
Das 3ª e 4ª Dinastias, será incontornável a menção a outro exemplar excecional presente neste leilão, os Quatro Cruzados, de 1642, cunhado por João IV (n.º 247) mas outra moeda a assinalar é a soberba Dobra joanina, de 1726, muito rara por ostentar a serrilha original em corda (n.º 275). A numária portuguesa continental encerra com um conjunto de lotes da República, onde é indispensável registar a presença do 1 Centavo, de 1922 (n.º 327), procedente da antiga Coleção Barbas, considerada como a mais rara moeda deste período, de que se conhecem somente 6 exemplares.
Segue o leilão com lotes das antigas colónias portuguesas (n.º 328-52), recheado de moedas de bastante interesse, muitas de difícil aquisição no comércio da especialidade, onde se regista a presença: das 6 Macutas de José I, de 1762 (n.º 329), a mais rara moeda da numária angolana, e um dos dois exemplares conhecidos dos 400 Réis de 1735, de Moçambique (n.º 347).
Surgem então outras secções, já acima referidas, que contemplam a moeda de outros países, as medalhas nacionais e estrangeiras, as cédulas e o papel-moeda e afins, onde os colecionadores destas áreas da Numismática irão encontrar, seguramente, contributos para enriquecer as suas coleções. O leilão encerra com a tradicional secção de bibliografia da especialidade, sempre bem guarnecida com livros raros, onde figuram duas obras que merecem realce: os primeiros 26 volumes, da 1ª série, da revista Arquivo Beja (n.º 490) que albergam inúmeros artigos de interesse numismático, em especial da autoria de Abel Viana, e a clássica obra de Estácio da Veiga, em 4 vols., Antiguidades monumentais do Algarve (n.º 515), também pouco acessível no mercado livreiro.
Nunca é demais salientar o esforço e a persistência da casa leiloeira lisboeta Numisma S.A., que, mesmo nestes tempos difíceis de pandemia, prossegue denodadamente com a sua atividade ao mais alto nível, como bem o demonstra a alta qualidade deste leilão que agora noticiamos, merecendo por isso o nosso louvor e felicitação.
Rui Centeno
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