Após o considerável número de leilões organizados por diversas empresas da especialidade nos durante o corrente ano, tudo parece indicar que o mês de dezembro poderá ser memorável para o colecionismo e comércio de moedas. Na verdade, o primeiro leilão deste mês, a 75ª Permuta organizada pela Sociedade Portuguesa de Numismática decorreu ontem, tendo sido um estrondoso sucesso, por certo, o leilão mais concorrido dos últimos 20 anos, a que se seguirão outros das firmas lisboetas Diamantino Leilões, Numismática Leilões e da Numisma Leilões, a "prima inter pares" das empresas portuguesas de numismática.
O Leilão n.º 121, da Numisma Leilões, irá realizar-se no próximo dia 11 de Dezembro, em duas sessões, de manhã e tarde, no Jupiter Lisboa Hotel, a partir das 10H30. Pela quantidade, qualidade e raridade dos numismas presentes nesta venda pública, este leilão arrisca-se a ser um dos acontecimentos numismáticos do ano, constituído por 870 lotes, desde a numária romana, sueva e islâmica à de Portugal e antigas colónias, passando pela estrangeira, pela medalhística, papel moeda e bibliografia da especialidade. Uma palavra também para a qualidade gráfica e o cuidado colocado na produção do respetivo catálogo, onde se apresentam notas histórico-numismáticas sobre os lotes em destaque no leilão.
A abundância de lotes raros e valiosos é tão impressiva que se tornaria fastidiosa a sua referência nestas notas. Claro que o colecionador mais exigente, encontrará nas páginas 9-12, belas ilustrações dos principais lotes, com a respetiva identificação. Aqui vamos apenas elencar as nossas preferências que certamente não coincidirão na totalidade com as dos nossos leitores.
Os primeiros 205 lotes são reservados à moeda do Mundo Romano (1-62), dos Suevos na Hispânia (63-66) e do al-Andalus (67-205), sendo que este último grupo é proveniente da coleção José Rodrigues Marinho. Entre o numerário da Hispânia é obrigatória a referência ao AE de Cilpes (45), peça de alta raridade e em invulgar estado de conservação. Destaque especial merecem os quatro tremisses suevos, todos muito valiosos e raros, sendo dois da série LATINA MVNITA (63 e 64), outro com legenda de Valentiniano III (65) e o último, aparecido há umas dezenas de anos no “Norte de Portugal”, com letreiro de Honório (66). O conjunto muito diversificado de moedas do Islão cobre o longo período da presença árabe no Península Ibérica, onde figuram algumas moedas raras e outras nem sempre fáceis de encontrar no mercado.
A numária de Portugal e dos seus antigos territórios (206-654) representa o núcleo central deste leilão e é constituída por um impressionante conjunto de raridades, onde o ouro pontifica, complementado por uma seleta representação de moeda de prata e cobre, alguns raramente vistos em vendas similares. Impressionante nesta área da numismática nacional é o generoso número de exemplares de elevada raridade, revelando-se uma tarefa difícil e ingrata selecionar algumas peças para destaque nesta notícia.
A abrir os destaques é forçoso referir dois “pesos pesados” da numária medieval portuguesa: um excecional Morabitino de Sancho I (206) e a belíssima Dobra Pé Terra de D. Fernando I (224), porventura, uma das mais apreciadas moedas de Portugal, infelizmente, inacessível à quase totalidade dos colecionadores. Ainda dentro do reinado do Rei Formoso, uma menção ao Forte, L (225) e ao Meio Tornês de Busto, L-B (227).
A dinastia de Avis também está presente com diversas preciosidades: o raríssimo Real Grosso, oPo/oPo, 10 castelos, de D. Afonso V (285); os dois exemplares de Português (334-35), de D. João III, um com R-C (retrógado), certamente batido da Casa da Moeda de Lisboa (335), peças fabulosas e que podemos acrescentar, a um nível mais acessível, o Cruzado, 8 castelos (módulo maior) do mesmo monarca (336). D. Sebastião também está magnificamente representado por um soberbo São Vicente PO (383) e pelo esplêndido Engenhoso, ND (384), exemplar que pertenceu à antiga coleção Abecassis. Outra raridade é o Tostão (coroa fechada), do período dos Governadores do Reino (398), que integrou a famosa coleção Garrett e que também se encontra referenciado na Cartilha da numismática portuguesa, de Batalha Reis.
Para o período filipino é incontornável destacar a presença de três fantásticas peças de Filipe II: os 4 Cruzados, L/B-IIII, coroa ladeada (402), e besantes em cruz no reverso (403) e os 2 Cruzados, L/B-II (404), que raramente se podem apreciar num mesmo leilão.
Na última dinastia destaca-se naturalmente o numerário de ouro, sempre muito procurado por colecionadores e também investidores, onde as opções de escolha são muito variadas: desde as sempre valiosas Moedas de D. Pedro II (451-53), a uma soberba Dobra 1728 (459), da maior raridade, de D: João V, ou a um naipe diversificado de Peças de D. José I (500-04), D. Maria I (com e sem D. Pedro III) (505-34). Mas não podemos deixar de registar a presença quatro raríssimas moedas: a Meia Peça 1805, de D. João, Príncipe Regente (537), a Peça 1821(7-1), quase a flor de cunho, de D. João VI (540), o Dobrão 1725 M, com carimbo “escudo coroado” (544), e os 5000 Réis 1845 (545), ambos de D. Maria II. Para a República o destaque vai para os 50 Centavos 1925 (576), uma das moedas mais cobiçadas deste período da nossa História, e para o raro ensaio de alumínio dos 10 Centavos de 1970 (590), que raramente aparece no comércio da especialidade.
Da numária das antigas colónias portuguesas são referência obrigatória para Angola, as 12 e 6 Macutas de 1762 (613-14), do reinado de D. José I, sendo a última considerada como o mais raro exemplar da numismática angolana; finalmente, da Índia podemos apreciar uma “joia” da produção monetária portuguesa do século XVI, Escudo de São Tomé, de D. João III (636), peça que integrou a afamada coleção Marrocos, leiloada em Genebra, em 1995.
O leilão prossegue com bons lotes de moeda estrangeira, em especial do Brasil, onde estão presentes os valiosos 6400 Réis 1828 R 8/7, de D. Pedro I, imperador do Brasil (655), um conjunto de medalhas religiosas (656-87), papais (688-92), militares (693-95), portuguesas (696-843) e estrangeiras (844-52). Um pequeno grupo de notas (853-57) e bibliografia numismática, nacional e estrangeira (858-70) encerram esta importante venda pública.
Concluindo, cumpre-nos felicitar a Numisma Leilões pela organização de leilão que, estamos convictos, fechará com chave de ouro este período efervescente do comércio numismático, anterior à quadra festiva que se aproxima.
RC
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